Volkswagen Golf 2.0 TDI GTD – Ensaio

By on 20 Setembro, 2017

Volkswagen Golf 2.0 TDI GTD

Texto: Francisco Cruz

Quem foi que disse que o diesel morreu?

Numa altura em que os motores a diesel são alvo de uma perseguição sem quartel em cada vez mais países, a Volkswagen mostra o porquê desta continuar a ser uma tecnologia atractiva. Nomeadamente, no Volkswagen Golf 2.0 TDI GTD, um senhor desportivo que, nem mesmo na sonoridade “diferente”, consegue fazer-nos acreditar que os dias do diesel já passaram!…

Se o Volkswagen Golf GTi pode ser considerado, hoje em dia, uma quase instituição, um modelo que, após mais de 40 anos no activo (a 1.ª geração foi lançada no mercado europeu em 1976), está cada vez mais perto de rivalizar com veículos míticos como o “Carocha” ou o “Pão de Forma”, a versão GTD, bem mais recente, mas também (um pouco) mais acessível e poupada, é assim como uma espécie de “prémio de consolação”. Especialmente para mercados como o português, onde o diesel tem, desde há muito, imagem particularmente positiva junto dos consumidores. Mesmo se não tão…. purista.

Assim e após o lançamento, já este ano, da mais recente renovação daquela que é a sétima geração do Golf, a Volkswagen fez o que lhe competia e, como não poderia deixar de ser, renovou igualmente, tanto o GTI, como o GTD. Ainda que e falando especificamente deste último, mantendo praticamente inalterada a fórmula já conhecida. Mas, não nos apressemos…

Exterior retocado à imagem da família

Tal como nos restantes elementos da família Golf, também na versão GTD, as alterações feitas com esta espécie de restyling acabaram não indo muito além do já esperado. Resumindo-se aos pára-choques e as ópticas (em LED, tal como as traseiras, além de com luzes de curva dinâmicas), além de um upgrade nas jantes (passam a ser de 18″) e na suspensão – a partir de agora, com sistema adaptativo de chassis e possibilidade de selecção de modos de condução (DCC). Argumentos até aqui opcionais, e que assim passam a ser de série.

Tudo somado, é o aspecto geral deste Golf GTD que claramente sai beneficiado, mostrando-se, nomeadamente quando observado de frente, mais agressivo e desafiante. Postura, de resto, confirmada por elementos como a ponteira de escape dupla, posicionada sobre o lado esquerdo, e que é também uma das formas de o diferenciar do GTI…

Interior de qualidade com posição de condução correcta

Já no interior do habitáculo, ao qual se acede com a mesma facilidade dos restantes Golf, a aposta já conhecida na solidez da construção, embora aqui acentuada por uma escolha mais cuidada dos materiais e uma maior atenção a revestimentos capazes elevar a sensação de luxo – como, por exemplo, as aplicações em plástico preto brilhante e metalizadas em vários locais do habitáculo, ou até mesmo o ecrã táctil de 8″ em vidro do sistema de informação e entretenimento “Discover Media”. Que, sem qualquer botão rotativo ou de pressão, mas com tudo o que é espectável numa solução de topo, só não convence totalmente no primeiro momento em que tentamos ajustar o som – é que um comando táctil, numa superfície vidrada, dificilmente consegue ser tão preciso e funcional quanto um simples botão rotativo…

Convincente e até excelente, pareceu-nos a posição de condução. Desde logo, graças aos óptimos bancos dianteiros desportivos, em tecido, mas também com bastante apoio lateral a encaixar o corpo do ocupante na perfeição, além de com todos os ajustes necessários e indispensáveis. A que se junta, depois, um volante igualmente desportivo e personalizado, com a inscrição “GTD” em metal no braço inferior, além de ajustável em altura e profundidade, e com óptima pega. Exibindo ainda patilhas de accionamento da caixa DSG, além de um apoio de pé esquerdo e pedais com inserções em borracha e acabamento em aço inoxidável.

Perfeitamente integrados no cockpit e disfrutando de um sol radioso que o generoso tecto de abrir panorâmico (opcional, por 1.005€) deixava antever, ficámos igualmente convencidos quanto ao correcto posicionamento para, por exemplo, uma leitura sem dificuldades do atraente painel de instrumentos totalmente digital (opcional, por 461€), ou até mesmo acesso à globalidade dos comandos. Em qualquer um dos casos, bastante melhor que a visibilidade traseira, a agradecer a inclusão (de série) dos sensores de estacionamento traseiros e dianteiros, além de uma câmara traseira de boa definição.

Já para os restantes passageiros, o conforto proporcionado por bancos traseiros a garantirem igualmente uma posição correcta, com os joelhos ao nível da anca e espaço suficiente para as pernas. Ainda que, neste último capítulo, um pouco pior para o passageiro do meio, incomodado não tanto pelo túnel de transmissão, mas mais por um encosto de braço dianteiro que se prolonga demasiado para trás.

Ao mesmo tempo e a pensar em todas as coisas que continua sendo necessário transportar, uma bagageira de óptima capacidade, a anunciar 380 litros à partida, valor que ainda pode ser melhorado mediante o rebatimento fácil e praticamente na horizontal, após accionamento das trancas no topo das costas, das costas dos banco traseiros. Mantendo-se a funcionalidade oferecida por um acesso amplo mas também ligeiramente alto, espaços de arrumação nas laterais, tomada de 12V e ganchos porta-sacos, além de um piso amovível passível de ser colocado num de dois níveis – o mais alto, a garantir ainda um alçapão de boa profundidade a toda a dimensão do espaço, ainda que obrigando a acomodar os objectos directamente em cima do pneu sobressalente, de emergência. O que, reconheça-se, não é a melhor solução…

Equipamento reforçado e sem falhas

De resto e já que falamos de equipamento, importa salientar aquela que é uma das razões para o facto do preço deste Golf GTD ficar perigosamente perto dos 50 mil euros (47.588€), isto ainda sem qualquer opcional  – no caso do “nosso” carro, com mais de 6.600€ em opcionais, o PVP ultrapassava mesmo os 54 mil euros! Falamos, claro está, do equipamento de série, que neste desportivo a diesel engloba já, além dos elementos atrás citados, grelha do radiador preta “favos de abelha” com inserção cromada e logótipo “GTD”, pára-choques em design desportivo com entrada de ar frontal também “favos de abelha”, ponteira de escape dupla, spoiler traseiro, jantes em liga leve de 18″ “Sevilla”, apoio de braços central com compartimento de arrumação, estofos em tecido no padrão “Clark”, pacote “Lights & Vision” (Espelho retrovisor interior com função anti-encandeamento + Luzes de condução automáticas com funções “Leaving-Home” e função manual “Coming-Home” + Sensor de chuva), sistema Start&Stop com recuperação da energia de travagem, travão de parque eléctrico com função “Auto Hold”, Adaptive Chassis Control (DCC), ar condicionado automático “Climatronic”, coluna da direcção com regulação em altura e profundidade, indicador multifunções “Premium”, sistema de navegação “Discover Media” (ecrã táctil a cores de 8″ + leitor de CD + leitor de cartões SD + interface USB compatível com iPod/iPhone + tomada AUX-IN + 8 altifalantes + mapas Europa + Bluetooth + Volkswagen Media Control + serviço Car-net “Guide&Inform” com contrato por 3 anos) e extensão de garantia para 5 anos (2+3) ou 90.000 km.

Já no domínio da segurança, a presença de equipamentos como o alarme, detetor de fadiga, faróis de nevoeiro com luzes de curva estáticas, sete airbags, Programa Electrónico de Estabilidade, sistema de travagem anti-colisões múltiplas e monitor de pressão de pneus. Sem esquecer mais-valias como o cruise control adaptativo com “Front Assist” e sistema de reconhecimento de peões, ou bloqueio electrónico do diferencial (XDS).

Motor pujante e sempre disponível

Mas se este Golf GTD rivaliza com os restantes elementos da família em termos de funcionalidade e características familiares, suplantando-os em aspectos como o equipamento, a verdade é que, em capítulos como o motor, prestações ou até mesmo prazer de condução, consegue mesmo deixá-los a muitas léguas de distância! À excepção, claro está, do GTI; mas isso, caro leitor, são já contas de outro rosário!…

Envergando um já conhecido 2.0 TDI naquela que é a sua variante mais potente, com 184 cv de potência e 380 Nm de binário, e acoplado à novidade que é a caixa automática DSG de dupla embraiagem, agora com sete velocidades, simplesmente não falta fôlego, impetuosidade e até emoção a este desportivo que alguns puristas dirão menos digno! Mas que os números inscritos no “cartão-de-visita” facilmente se encarregam de desmentir – demonstram-nos os 7,4 segundos na aceleração dos 0 aos 100 km/h, ou até mesmo os 230 km/h de velocidade máxima!

E se a forma arrebatadora, em certa ocasiões até um pouco brusca, é suficiente para nos colocar a sorrir, um olhar mais atento pelos consumos pode fazer-nos ainda mais felizes; e dizemos “pode”, porque, na verdade, tudo depende também da forma como abordarmos a condução. Com uma condução racional e alguns momentos mais emocionantes a permitir médias na ordem dos 7 l/100 km, ao passo que, trajectos sinuosos e feitos permanentemente nos limites (como, aliás, apetece!), fazem prometer valores mais perto (bem mais perto!…) dos 9 l/100 km.

Se o motor convida, o comportamento desafia!

Basicamente, é exatamente isso que o leitor acabou de ler: se o turbodiesel 2,0 litros de 184 cv que equipa este Golf GTD facilmente se assume como um verdadeiro convite para acelerar, o comportamento exibido pelo conjunto vai ainda mais longe, não se limitando a “perguntar-nos” se queremos andar um pouco mais depressa; pelo contrário, desafia-nos a fazê-lo!

Oferecendo uma das melhores experiências de condução que é possível obter num familiar compacto a gasóleo, o desportivo alemão faz-se valer dos argumentos garantidos por soluções particularmente eficazes, como é o caso da suspensão adaptativa ou do bloqueio electrónico do diferencial, para aproveitar na plenitude a disponibilidade e impetuosidade de um quatro cilindros a que não falta sequer e especialmente quando accionado o modo Sport, uma sonoridade mais à altura das expectativas – não tão arrebatadora quanto a do GTI, é certo, mas ainda assim que espicaça!

Em prol do excelente aproveitamento das capacidades do quatro cilindros, também a eficácia revelada pela excelente caixa automática DSG de 7 velocidades, cuja actuação tanto se destaca pela imperceptibilidade (só a engrenagem da primeira é por vezes um pouco brusca), como pela rapidez nas passagens. Em particular e neste último caso, quando com o já referido modo Sport accionado.

Rápido sem grandes esforços e eficaz sem necessidade de cedências acentuadas em matéria de conforto, a verdade é que, embora a gasóleo, pode ser grande o gozo retirado ao volante deste Golf GTD. E, ainda mais, se decidirmos assumir o funcionamento da caixa através das boas patilhas no volante, para em seguida atirarmo-nos aos trajectos mais sinuosos, aproveitando a agilidade e elevada capacidade de resposta do compacto alemão. Mas também a precisão de uma direção que ajuda a inserir o modelo com uma facilidade notável em curva, contribuindo depois e em conjunto com o bloqueio electrónico do diferencial, para não só descrever com precisão a trajectória no interior, como também para sair, em seguida, em aceleração e com confiança total, rumo ao desafio seguinte. Porque, embora sendo um verdadeiro desportivo, este é também um modelo fácil de guiar!…

Resumindo…

Com uma estética exterior que só em alguns pormenores se diferencia da referência absoluta GTI, todos os atributos familiares de um qualquer Golf, equipamento muito completo e, ainda por cima, um conjunto propulsor/caixa de velocidades capaz de entusiasmar, o agora renovado Volkswagen Golf GTD é o exemplo perfeito de que, ao contrário do que muitos querem fazer crer, será uma pena se o diesel desaparecer. Até porque, para condutor comum, bem pior que os 129 g/km de emissões de CO2 que anuncia, são os quase 48 mil euros custa!…

FICHA TÉCNICA

Motor

Tipo – Quatro cilindros em linha, injecção directa Common-Rail, turbocompressor de geometria variável e intercooler

Cilindrada (cm3) – 1.968

Diâmetro x curso (mm) – 81.0×95.5

Taxa compressão – 16,5:1

Potência máxima (cv/rpm) – 184/3.500-4.000

Binário máximo (Nm/rpm) – 380/1.750-3.250

Transmissão, direcção, suspensão e travões

Transmissão e direcção – Dianteira, com caixa automática de dupla embraiagem e sete velocidades; direção de pinhão e cremalheira, com assistência eléctrica

Suspensão (fr/tr) – Tipo McPherson; Eixo de torção

Travões (fr/tr) – Discos ventilados/Discos ventilados

Prestações e consumos 

Aceleração: 0-100 km/h (s) – 7,4

Velocidade máxima (km/h) – 230

Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km) – 4,5/5,6/4,9

Emissões de CO2 (g/km) – 129

Dimensões e pesos

Comprimento/Largura/Altura (mm) – 4,268/1,799/1,482

Distância entre eixos (mm) – 2,626

Largura das vias (fr/tr) (mm) – 1.549/1.521

Peso (kg) – 1.615

Capacidade da bagageira (l) -380/1.270

Depósito de combustível (l) – 50

Pneus (fr/tr) – 225/40 R18/225/40 R18

Preços


Preço da versão ensaiada (Euros): 54278€

Preço da versão base (Euros): 47589€