Carlos Tavares: “O que foi decidido a nível europeu foi um erro crasso”
A indústria automóvel europeia vive tempos de mudança. E a mudança tem-se tornado conturbada ao longo do tempo. A necessidade de redução das emissões de carbono levou a Europa a adotar medidas drásticas que agora começam a ter efeitos, nem sempre positivos.
Os motores a combustão tornaram-se numa espécie de inimigo público que era preciso eliminar o mais rapidamente possível, para dar lugar aos elétricos. A regulamentação, as leis, a comunicação focou-se nos elétricos, que passaram a ser vistos como a salvação, enquanto o motor a combustão ia continuando a sua missão de fazer mexer a Europa. Infelizmente não se pensou nos efeitos que essa decisão poderia implicar.
Não está em causa a necessidade de redução das emissões de carbono. O que está em causa são as políticas escolhidas e a forma como foram implementadas. Exigiu-se muito, em pouco tempo, às marcas, que cumpriram com a sua parte e que agora vêm o mercado de elétricos estagnar. Mais ainda, abriu-se a porta às marcas chinesas, que chegaram em força e agora são taxados, numa medida que visa proteger a indústria automóvel europeia, que pode estar em risco. E pior, a nova mobilidade elétrica não está acessível a todos. Já são muito poucos os carros verdadeiramente baratos que a classe média europeia, com um poder de compra cada vez menor, pode comprar.
Um erro crasso seguido de outro
Carlos Tavares comentou a situação atual ao AutoSport / Automais. O CEO da Stellantis tem sido uma das vozes mais sonantes na defesa da indústria automóvel europeia e não tem problema em apontar o dedo aos governantes. Questionado sobre a situação europeia e se via esperança no futuro, Tavares foi claro na sua mensagem:
“Esperança há sempre. Temos é de alinhar as boas vontades e fazer com que elas funcionem. O que está a acontecer é muito simples: todos estão a tomar consciência de que o que foi decidido a nível europeu é um erro crasso. E é o que temos vindo a dizer há sete anos. Que as medidas implementadas iam destruir a liberdade de movimento das classes médias. Porque o custo da liberdade de movimentos [automóveis] vai aumentar e isso vai criar instabilidade social. A ignorância das elites de Bruxelas acerca da vida da classe média europeia potenciou esse grande erro.
Há um erro crasso para as classes médias e para o planeta, pois já entendemos que não estamos a ter grandes resultados do ponto de vista da redução de emissões. E agora estão a tentar corrigir o erro. Estão a fazê-lo com a imposição de taxas aduaneiras [aos automóveis chineses]. Mas não vão conseguir corrigir o erro, pois os efeitos colaterais dessas decisões são enormes a nível do comércio internacional, das retaliações, etc. Não se vai corrigir um erro crasso com as taxas.
Vai ter de haver abertura para soluções que possam conciliar as emissões de CO₂ com o poder de compra das classes médias. Senão, continuamos a afundar a liberdade da sociedade europeia. Já dissemos que a liberdade está afetada pela burocracia. Mas se começarmos a penalizar a liberdade de movimentos da classe média, isso não é aceitável”.
Oiça as declarações de Carlos Tavares:
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